União e resistência
Unidade - a palavra de ordem
contra a proposta de fatiamento da CEDAE
Os empregados da CEDAE deram uma resposta
contundente ao projeto do governo do Estado, aprovado pelo Conselho de
Administração, de fatiar a Companhia em seis empresas – uma de produção de água
e tratamento de esgotos e cinco destinadas a distribuir água e coletar esgotos
sanitários. Mobilizados pelas entidades representativas do setor e pelos
sindicatos da categoria, cerca de quatro mil trabalhadores paralisaram as atividades
da empresa e saíram em passeata, no último dia 18 de maio, contra a
privatização da empresa e em defesa da garantia do emprego, cuja cláusula a
direção da CEDAE se recusa a aceitar, gerando um impasse na assintura do Acordo
Coletivo de 2005.
A mobilização dos trabalhadores começou no
dia 11 de maio, quando aproximadamente duas mil pessoas, segundo cálculos da
própria Polícia Militar, participaram da gigantesca manifestação realizada
pelas entidades e sindicatos em frente à sede da empresa. O ato marcou o
posicionamento de “unidade” da categoria, e contra a privatização da companhia,
depois que a direção da empresa confirmou a realização de estudos para entregar
aos municípios os serviços de distribuição de água.
Além do presidente da ASEAC, parlamentares,
sindicalistas, estudantes e representantes da sociedade civil participaram do
Ato em Defesa da CEDAE pública. Estiveram presentes os presidentes do Sindicato
dos Trabalhadores de Campos, Erilza Zózimo Valatão Ferzeli; do Sindicato dos
Engenheiros (SENGE), Aloísio Souza da Silva; do Sindicato dos Administradores
(SINTAERJ), Jair de Carvalho Júnior; da Associação dos Aposentados da CEDAE
(ASAPAE), Vicente Arantes; da Associação Fluminense dos Trabalhadores da CEDAE
(AFTAE ), Marcos Puccini Lara; da Associação dos Trabalhadores da CEDAE
(ASTEC), Humberto Lemos; da ASCED/GOLFINHO, Jorge Luiz Santos; do Sindicato do
Rio de Janeiro (SINTSAMA), Francisco Pereira (Chiquinho); e do Sindicato de
Niterói, Carlos Eduardo Peixoto Xavier (Campista).
Paralisação
O movimento cresceu ainda mais depois que
o Conselho de Administração convocou uma reunião para o dia 18, destinada a
votar uma proposta de realização de estudos para a cisão da CEDAE. Na véspera,
uma assembléia geral da categoria decidiu então pela paralisação no dia da
reunião e decidiu fazer uma grande manifestação, culminando com uma passeata
até a sede da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo, onde o Conselho de
Administração deveria se reunir, e outra manifestação na Assembléia Legislativa
do Estado (ALERJ), para informar e cobrar compromisso dos parlamentares com a
CEDAE pública.
Logo cedo, começaram a chegar vários
ônibus, trazendo trabalhadores de todas as partes do Estado. Ostentando faixas,
cartazes e adesivos, os empregados da empresa se concentraram em frente a sede,
onde iniciaram uma passeata histórica, com apoio da Polícia Militar, até o
prédio conhecido como “Banerjão”, na rua da ajuda, que paralisou o trânsito no
centro da cidade. Ao som da Música “Planeta Água”, de Guilherme Arantes, os trabalhadores
gritavam slogans contra a privatização, enquanto denunciavam à população o
risco que o projeto de fatiamento e privatização da CEDAE representa para a
sociedade, especialmente as camadas mais carentes. “CEDAE, unida, jamais será
vendida”, diziam em coro os trabalhadores, lembrando que água é fundamental
para a vida humana.
Em frente ao prédio do governo do Estado,
foi instalada a assembléia permanente dos trabalhadores, que decidiram aguardar
o resultado da reunião do Conselho, para decidir as próximas ações. Como
chegaram informações de que não haveria mais a reunião, a assembléia se
transferiu para a ALERJ, onde vários deputados aderiram ao movimento, se
comprometendo a defender na casa parlamentar a manutenção da CEDAE pública.
Contudo, através de uma manobra, o governo
conseguiu reunir o conselho da companhia e mudou a pauta do encontro,
aprovando, em vez de estudos, a cisão definitiva da empresa, cuja proposta
agora terá de ser votada em assembléia de acionistas e apreciada e aprovada na
ALERJ. A reação dos trabalhadores foi imediata: tão logo o representante dos
acionistas minoritários no conselho, Dario Mondego, confirmou a decisão do
governo do Estado, os trabalhadores mobilizaram um grupo de deputados e
aprovaram na casa a convocação de uma CPI para investigar a atual administração
da CEDAE.
O presidente da ASEAC, Flávio Guedes,
defendeu em seu pronunciamento a unidade dos trabalhadores em torno da CEDAE,
para lutar pelo modelo de gestão pública, “pois a empresa é perfeitamente
viável. Por quenão seria, se a Sabesp, a Copasa, a Sanepar, a Embasa
contornaram seus problemas e hoje são empresas modernas e pujantes?”. Segundo o
engenheiro, o problema da CEDAE é de gestão, e não vai se resolver com a
separação da empresa em duas ou mais companhias. “Isso é um absurdo, pois
entregar a distribuição de água aos municípios significa entregar a caixa
registradora à iniciativa privada nas cidades onde o serviço é superavitário”,
denunciou.
Flávio Guedes lembrou a situação dos
mananciais do Estado, que se encontram em franco processo de degradação, e
convocou todos os trabalhadores, aposentados ou da ativa, a levantar a cabeça e
resistir contra a separação da CEDAE, que vai trazer sérios prejuízos à
população. - Os trabalhadores da CEDAE tem o direito de julgar e amaldiçoar
seus algozes - afirmou.
- Não podemos aceitar que nos digam
que a CEDAE é ineficiente. Uma empresa que só recebe 37,5% da água que produz
tem um potencial enorme para se reestruturar e se recuperar. E é por isso que
várias empresas estrangeiras estão de olho na CEDAE. É um complô internacional
para por as mãos ossudas, peludas e fedorentas nesse vasto patrimônio nacional.
Mas nós vamos resistir. Se o petróleo é nosso, a água também é nossa – concluiu
o presidente da ASEAC.
O vice-governador e secretário de
Meio Ambiente e Urbanismo, Luís Paulo Conde, convocou para o dia 7 de junho uma
assembléia de acionistas da CEDAE, destinada a referendar a decisão do Conselho
de Administração que aprovou a cisão da CEDAE em seis empresas – uma de
produção de água e tratamento de esgotos e cinco outras de distribuição e
coleta de esgoto, que deverão ser entregues aos municípios e, possivelmente,
privatizadas.
A decisão teria sido tomada por
orientação da própria governadora Rosinha Garotinho e só teve um único voto
contrário, do representante dos acionistas minoritários no Conselho de
Administração – o ex-presidente da ASEAC, Dario Mondego. Em seu voto por escrito,
Dario fez questão de defender a reestruturação da companhia e a sua preservação
como empresa pública, lembrando que a CEDAE é a segunda maior companhia de
saneamento do país.
Ele chegou a propor ainda que fosse
dado à CEDAE o mesmo tratamento que o governo do Estado de São Paulo deu à
Sabesp, promovendo a recuperação da empresa e a melhoria da qualidade dos
serviços prestados à população daquele Estado. Mondego lembrou também que a
CEDAE foi a primeira companhia de saneamento criada no país pelo PLANASA,
servindo de modelo para as demais, posteriormente criadas no país.
A decisão foi considerada pelas lideranças dos trabalhadores e técnicos como “um golpe” na empresa e nos trabalhadores. Isto porque, o próprio presidente da CEDAE, Aluizio Meyer, havia garantido (ver entrevista nas páginas 6 a 10) que, por enquanto, o que existia era apenas um estudo a respeito de um novo modelo para a empresa. Em um documento oficial, assinado por ele, Aluizio Meyer chegou a afirmar que “a orientação do governo do Estado é a de que, seja qual for o modelo a ser adotado na operação, a CEDAE deverá permanecer como uma empresa pública sob controle estadual. A reestruturação que vier a ser feita destina-se, assim, a fortalecê-la e modernizá-la para que possa cumprir com eficiência suas atribuições primordiais: o planejamento do setor de saneamento básico do Estado, a produção de água (captação, tratamento, adução etc.) e o tratamento e disposição final de esgotos. Os estudos convergem para o criação de empresas de distribuição de água, que deverão concorrer entre si, de modo a promover-se competitividade no setor”.