ALERJ DIZ NÃO

Novo ator de um velho filme

 

Trabalhadores comparam postura de Garotinho à de Marcello Alencar

 

 

 

      A lém de fruto de um descompromisso político do governador, a proposta de transferir 40% das ações da CEDAE para o Rio Previdência é resultado da inépcia do governo em tocar uma entidade de previdência. A opinião é do diretor da Federação Nacional dos Urbanitários e do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (SINTSAMA), Roqueiran Miranda Lima, responsável pelos assuntos de previdência da Federação.

Segundo ele, o governo do Estado criou o Rio Previdência com base em um orçamento que, desde a fundação do órgão, era virtual, já que sua maior fonte de custeio se baseava na dívida ativa dos contribuintes com o governo. O Estado, conforme explicou, ficou de constituir empresas e alguns organismos para fazer a cobrança dessa dívida e transformá-la em reserva matemática para garantir os benefícios a serem pagos pelo Rio Previdência.

Na realidade, contudo”, explicou Roqueiran, o governo foi ineficiente nisso e, mesmo que tivesse tido sucesso, a dívida ativa é inadequada para constituir um fundo de reserva destinado a bancar os benefícios comprometidos pelo Rio Previdência. “Com isso, chegou-se a um impasse, no qual o fundo está próximo à insolvência e o Tesouro não tem disposição para alocar recursos nele, por causa da lei de responsabilidade fiscal. Assim, o que o governo pretendia, ao doar as ações da CEDAE ao Rio Previdência, era,  num passe de mágica, tentar resolver os dois problemas de uma única vez, e ainda sair limpo da lei de responsabilidade fiscal. Só que, dessa forma, estaria enterrando a sua história política e com certeza vai sair do governo do Estado como mentiroso e, além disso, com a fama de conseguir dilapidar uma empresa que pertence ao povo do Estado do Rio de janeiro”, afirmou.

O diretor da Federação dos Urbanitários disse ainda que a decisão de transferir 40% das ações da CEDAE para o Rio Previdência é uma forma indireta de privatizar a companhia, pois a única maneira de transformar os papéis em recursos seria vendendo as ações. “Até por sua essência, os fundos  previdenciários trabalham com papéis, principalmente em bolsa. E a CEDAE, em um passe de mágica, nessa via transversa, se tornaria empresa de capital aberto, porque o Rio Previdência tem que ter liquidez em todos os seus papéis, para não colocar em risco os beneficiários”.

 

SINTSAMA: Governador  traiu o seu próprio discurso

 

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (SINTSAMA), Luis Carlos Vieira Dantas, também se manifestou surpreso com a mensagem do governador à ALERJ. Segundo ele, durante todo o período do atual governo, apesar de certos problemas ideológicos devido à falta de apoio do governo à CEDAE, os trabalhadores e o governador se relacionaram dentro de uma certa parceria em vários momentos.

- Agora, faltando poucos dias para o final do mandato, vemos se repetir a mesma coisa que aconteceu com o ex-governador Marcello Alencar, que entregou a CEDAE em Niterói à iniciativa privada, e até hoje as coisas não ficaram resolvidas. Foi uma invasão, e o modelo utilizado é muito parecido com esse que foi tentado agora – disse o sindicalista. Segundo ele, a situação preocupa, porque um governo que durante todo o seu mandato manteve um discurso de oposição, de governo popular, não pode tomar uma medida desta, facilitando a entrega da segunda maior empresa de Saneamento do país ao setor privado, através do Rio Previdência.

Para Dantas, a transferência de 40% das ações da CEDAE ao fundo é uma forma camuflada de privatização, porque esses papéis vão virar recursos nas mãos do Rio Previdência, que vai se capitalizar transferindo as ações ao setor privado, principalmente a empresas internacionais. “De qualquer forma, acho que a situação ficou bem encaminhada na ALERJ e dificilmente esse projeto vai evoluir. Além disso, as entidades que compõem nossa categoria, como a ASEAC e os sindicatos, estão unidas e levaram uma discussão séria para o governo. Creio que conseguimos, assim, mostrar às representações da sociedade, através a presidência da Assembléia Legislativa e do próprio líder do governo, a nossa seriedade em preservar uma empresa que presta um serviço essencial à população do Estado”, afirmou. No entender do presidente do SINTSAMA, essa união da categoria é que deixa qualquer governo – seja de esquerda ou de direita – numa situação difícil quando colocam a CEDAE em “xeque” diante da possibilidade de privatização.

 

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