Mensagem soou mal
Até a base de sustentação do governo
estranhou a decisão de Garotinho
Paulo Ramos
“Eu acho surpreendente que o governador do
Estado, no apagar das luzes da sua administração, tenha encaminhado essa
mensagem para a ALERJ”, afirmou o deputado Paulo Ramos (PDT/RJ), que garantiu
que a rejeição à mensagem de Garotinho é bastante explícita dentro da ALERJ.
“Eu estou convencido de que esta é uma espécie de mensagem natimorta”, disse.
Para o parlamentar, o governador vai voltar
atrás, porque até mesmo na base governista a mensagem - que transfere 40% das ações da CEDAE ao Rio Previdência - não
teve boa acolhida: “Garotinho vai refletir e não vai querer enfrentar nenhum
movimento no final de sua gestão, porque o pessoal da CEDAE tem tradição de
luta, defendendo os interesses da sociedade inseridos na empresa”, garantiu. Em
razão disso, Paulo Ramos tem certeza de que a ALERJ não vai ter que passar pelo
dissabor de apreciar uma matéria que não se compatibiliza com os interesses do
povo do Estado do Rio de Janeiro.
- Nós já dissemos não a várias propostas de
privatização. Se essa for a intenção, eu acho que a CEDAE pode ficar tranqüila
em relação à ALERJ. A Assembléia vai rejeitar – concluiu.
CHICO ALENCAR
- A CEDAE escapou por um triz desse processo
espúrio de privatização, que enriqueceu muita gente, empobreceu o Estado e o
povo do Rio de Janeiro. Houve gestões muito fortes daquele rapaz, que hoje mora
em Miami, para privatizar a CEDAE (referindo-se ao ex-secretário Marco Aurélio
Alencar, filho do ex-governador Marcello Alencar), que usou argumentos muito
fortes, muito convincentes, argumentos parecidos com aqueles que foram
fotografados no escritório da empresa da governadora Roseana Sarney – disse em
tom irônico o deputado Chico Alencar (PT/RJ).
Segundo ele, o seu partido quer – e esse é um
compromisso do Partido dos Trabalhadores, no eventual governo Benedita, de nove
meses – que a CEDAE continue pública, continue estatal, para ser melhorada a
partir do diálogo com os trabalhadores da empresa e com todos aqueles que quiserem ajudar a reconstruir a companhia
e não apenas ter um bom emprego. Chico Alencar afirmou que, se a proposta do
governador Garotinho, que chegou de última hora, implicar em alguma forma –
mesmo sutil – de abrir portas para a privatização ou enfraquecimento da CEDAE,
os parlamentares petistas serão contra.
- Não se pode descobrir um santo para cobrir
outro. Vamos travar uma batalha com o governo e a moblização dos trabalhadores
é fundamental, decisiva - afirmou.
De qualquer jeito, o deputado do PT vê com
muita preocupação a iniciativa do governador Garotinho, porque “essa pressa de
final de governo é má conselheira”, advertiu. Segundo Chico Alencar, um projeto
importante, que tem a ver com o Rio Previdência, hoje com problemas de
capitalização e de crise, e ainda envolvendo a CEDAE, que queremos pública e
cada vez mais eficiente, é muito grave. “Não vamos votar de afogadilho e nem
aceitar rolo compressor. E essa nossa posição vai valer para o caso de a
Benedita (vice-governadora Benedita da Silva) vir a assumir o governo do
Estado”, garantiu.
Para o deputado petista, um projeto desse tipo,
ao apagar das luzes do governo, demonstra que “há forças poderosas no Estado
que querem a privatização da CEDAE há muito tempo”. Essa ameaça, no seu
entender, diminuiu com a derrota do candidato do ex-governador Marcello Alencar
nas urnas e a posse de Anthony Garotinho. “Mas essas forças interessadas no
grande negócio que é acabar com a CEDAE pública continuam vivas. Volta e meia,
tentam desenvolver seu intento privatista. A gente tem de estar de olho vivo,
porque o inimigo é poderoso”, alertou Alencar.
O deputado, no entanto, tem certeza de que a
ALERJ vai dizer não mais uma vez a qualquer tentativa de privatizar a CEDAE.
“Até porque não se faz isso a 18 dias, a poucas semanas de mudança de governo.
Seria uma irresponsabilidade absoluta. Eu não creio que alguém que diz que quer
ser presidente da República possa agir dessa maneira”, concluiu Chico Alencar.
Wolney Trindade
“Nós ficamos, tanto quanto o pessoal da CEDAE,
estarrecidos com a mensagem enviada pelo governador à Assembléia Legislativa,
porque não é possível que, faltando poucos dias para deixar o cargo, ele tome
uma atitude desta”, disse o deputado Wolney Trindade (PMDB/RJ). O deputado
chegou a preparar uma emenda tornando inalienáveis por parte do Rio Previdência
as ações da CEDAE que o governo pretendia transferir ao fundo, mas felizmente a
pronta reação da ASEAC e dos sindicatos sensibilizou os parlamentares antes que
a matéria pudesse tramitar e ser votada.
Segundo o deputado, a companhia de Saneamento
já se encontra em situação econômico-financeira difícil e, portanto, não se
justifica o governador querer doar parte do seu patrimônio. Além disso, a
presidência da ALERJ não se mostrou simpática à mensagem do governador. Para
Wolney Trindade, uma decisão dessas deveria merecer um estudo mais longo,
precedido de um debate com todos os setores interessados, principalmente os
trabalhadores da CEDAE. O próprio líder do governador, deputado José Távora
(PDT/RJ) se manifestou contrário à decisão.
Assim como a maioria dos parlamentares
da ALERJ, o deputado pemedebista também suspeita das verdadeiras intenções
privatistas embutidas na mensagem: “Todo mundo está pensando exatamente isso.
Sem nenhum esclarecimento, a conclusão a que se chega não pode ser outra. Mas
esta Casa já disse não várias vezes às propostas de privatização e hoje existe
lei própria nesse sentido”, disse Wolney Trindade. Segundo ele, já existe uma
posição clara da ALERJ quanto à matéria. “Por isso, eu duvido que o governador
consiga os 36 votos necessários para aprovar qualquer coisa nesse sentido”,
concluiu.