Alerj rejeita golpe de “fim de festa”
Trabalhadores
e sociedade reagem à
A rápida mobilização da
direção da ASEAC e dos sindicatos representativos dos trabalhadores da CEDAE junto
aos parlamentares que integram a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro (ALERJ) foi decisiva para impedir a tramitação e aprovação do projeto
de lei nº 2878, de 26 de fevereiro último, oriundo de mensagem (13/02) do
governador Anthony Garotinho, autorizando, em regime de urgência, o Poder
Executivo a incorporar ao patrimônio do Rio Previdência 40% das ações da CEDAE
em poder do Estado.
A mensagem do Executivo foi imediatamente
interpretada pela ASEAC e demais entidades ligadas aos trabalhadores do setor
como uma tentativa “camuflada” de privatizar parte do capital da segunda maior
companhia de Saneamento do país pelo governo do Estado, que detém 99,99% do
controle acionário. Tão logo tomaram conhecimento da mensagem do governador, as
lideranças de classe e sindicais trataram de mobilizar a categoria, divulgando
uma nota oficial conjunta, na qual questionavam e denunciavam a atitude de
Anthony Garotinho, considerada uma nova ameaça flagrante de destruição da
CEDAE.
Rejeição em cadeia
A mobilização da categoria encontrou ampla
acolhida junto aos deputados, inclusive na própria base de sustentação do
governo. A maioria dos parlamentares se pronunciou contrária ao projeto de lei,
por julgá-lo inadequado e intempestivo, pois o Garotinho já havia manifestado
sua disposição de deixar o governo do Estado para disputar a presidência da
República. “E uma decisão desta não pode ser tomada ao apagar das luzes do
governo”, criticaram os deputados.
O próprio presidente da ALERJ, deputado Sérgio
Cabral (PSDB), se dispôs a falar com o governador e, rapidamente, mobilizou o
líder do governo, deputado José Távora (PSB), para que interviesse junto a
Garotinho para que este desistisse da mensagem. Após reunião realizada com
diversos sindicalistas, além do presidente e vice-presidente da ASEAC, Dario
Mondego, e Paulino Cabral, no dia previsto para a votação da matéria em regime
de urgência - 13 de março - , Sérgio Cabral foi taxativo: “Aqui na ALERJ vocês
têm a minha garantia de que este projeto não anda”.
Para o presidente da Assembléia Legislativa, o
projeto de Garotinho revelava uma clara intenção de transferir, por vias
transversas, o patrimônio da CEDAE para a iniciativa privada. “Acho que esse
assunto deveria merecer uma discussão mais ampla, com representantes indicados
pelo governador, de forma que trabalhadores e líderes de classe pudessem expor
suas posições”, disse o parlamentar. Para ele, essa discussão, caso fosse
levada adiante, deveria ocorrer, inclusive, fora da ALERJ, sem o caráter de
audiência pública, para não caracterizar um processo de tramitação do projeto
de Lei.
O presidente da ASEAC, Dario Mondego, explicou
ao deputado Sérgio Cabral, na ocasião, que ele próprio e os representantes dos
sindicatos não estavam ali para atacar o fundo de previdência dos servidores do
Estado do Rio. Muito ao contrário, manifestaram sua determinação de ajudar o
governo a sanear o Rio Previdência, colocando, inclusive, à disposição do
governador os sindicalistas especializados na questão. “Nós temos pessoas
especializadas no assunto que podem colaborar, participar e ajudar o Rio
Previdência”.
O deputado José Távora, depois de se
comprometer a interceder junto a Anthony Garotinho para a retirada do projeto,
pediu aos trabalhadores que mantivessem o diálogo, evitando o confronto pela
greve, “principalmente pela postura manifestada pelos parlamentares contrária à
mensagem do Executivo”. Embora garantisse que “o governo não tinha interesse em
dar rasteira em ninguém”, confessou que, antes de ser alertado pela ASEAC e
pelos sindicatos sobre a proposta do governador, ainda não havia se dado conta
das conseqüências que a mensagem poderia ter.
A postura firme do presidente da ALERJ, Sérgio
Cabral, foi definitiva para reverter o quadro e suspender a votação do projeto
do Executivo, marcada para o dia 13 de março, em regime de urgência. Falando ao
Jornal da ASEAC, Sérgio Cabral afirmou que a proposta de Anthony Garotinho não
tem futuro: “Acho que o governo vai refletir melhor, e o assunto vai ser
conduzido bem pelo deputado José Távora, pela ASEAC e pelos sindicatos da
categoria junto ao governador do Estado. E certamente deveremos chegar à
conclusão de que a melhor solução é a retirada definitiva do projeto”, disse,
logo após garantir que a mensagem do governador não seria levada à Plenário no
dia 13 de março.
Do encontro entre o presidente da ALERJ, Sérgio
Cabral, e as lideranças de classe e de trabalhadores, participaram, entre
outros parlamentares, os deputados Paulo Mello (PSDB), José Távora (PSB),
Edmilson Valentim (PC doB) e Paulo Ramos (PDT). Pela manhã, a mobilização
envolveu também os deputados Wolney Trindade (PMDB) e Chico Alencar (PT).
Arranjo astuto
No documento - assinado pela ASEAC, SENGE,
Federação dos Urbanitários, SINTSAMA, Sindicatos de Campos e de Niterói,
Sindicato dos Administradores, CUT, AFTAE, ASTEC, ANAPAR e ASAPAE – as
entidades classificaram a mensagem do Executivo como “um arranjo astuto para
burlar a inteligência da sociedade fluminense e dos deputados, além de passar
ao largo da Lei 8.666, de licitações”.
Segundo explicou a nota, a Lei 3.189/99, que
criou o Rio Previdência, autoriza, no seu artigo 13, o Poder Executivo a
incorporar ao patrimônio do fundo criado, além de outros ativos, as
participações societárias de propriedade do Estado, de suas autarquias e
fundações, bem como de empresas públicas e sociedades de economia mista
estaduais, mediante prévia autorização legislativa específica. Por sua vez, a
mensagem enviada à ALERJ previa a transferência apenas das ações da CEDAE
(40%), ficando o Rio Previdência “livre das obrigações de natureza tributárias,
oriundas de financiamentos, empréstimos, avais ou operações similares; das
decorrentes de estruturação de malhas hidroviárias, construções ou análogos,
bem como quaisquer outros encargos que possam gravar os bens incorporados”.
Para o presidente da ASEAC, em momento algum a mensagem define o valor a ser
transferido: “Assim, liberar 40% das ações do governo de um patrimônio da CEDAE
que não foi bem definido, somados a investimentos, valores mobiliários e direitos
etc., é entregar um cheque em branco para ser preenchido convenientemente, no
futuro”, afirma Dario Mondego. Além disso, explica, o parágrafo único do
projeto de lei “é de uma bondade infinita”, na medida em que propõe a doação
pelo governo, em nome da sociedade fluminense, do patrimônio da CEDAE, e assume
todos os encargos referentes a esse patrimônio. “É como se alguém doasse um
imóvel e firmasse em documento que os seus encargos, presentes e futuros,
ficariam na sua responsabilidade, para ratear com sua família”, acrescentou. E
sem falar no comprometimento que já existe desse patrimônio e do faturamento da
Empresa pelas aquisições de empréstimos, avais e outras operações que os
envolvem, e que correm o risco de não ser cumpridos, em face da redução do
patrimônio e da fragmentação do faturamento – ambos comprometidos em valores
maiores.
Na mensagem, o governo justifica ainda
que a incorporação de participações societárias ao Rio Previdência teria por
objetivo reforçar os meios de capitalização do fundo, provendo-o de bens cujos
rendimentos e o produto de eventual alienação, mantido o controle acionário
estatal da empresa (o governo manteria 60%), se acresceriam às suas
disponibilidades. “Contudo, não há em momento algum proibição para que o fundo
aliene as ações da CEDAE, de sua propriedade por doação do Estado. O próprio
governo reconhece essa possibilidade, ao falar de produto de eventual alienação”, afirma Mondego. E não haveria nada
de irregular na operação, por exemplo, se o Rio Previdência vendesse os 40% das
ações da CEDAE doadas pelo Estado a uma multinacional, como a “Lionayse des
Aux”, mas a companhia ganharia de imediato um “parceiro estratégico” perigoso à
sua preservação como empresa sob gestão pública, portanto, patrimônio da
sociedade do Estado do Rio de Janeiro.