Empresa reconhece mau serviço, mas

garante que população está satisfeita



Apesar da enxurrada de reclamações nas duas principais cidades atendidas pela Prolagos - Búzios e Cabo Frio - o presidente da empresa, Vlamir de Castro Paes, negou que o contrato de concessão assinado com o Estado esteja sendo descumprido. Ele prometeu melhorar os serviços prestados pela empresa até dezembro, inclusive de esgotos, caso sejam liberados os recursos solicitados à Caixa e ao BNDES.

O dirigente da Prolagos reconheceu, no entanto, que Búzios é o município mais mal atendido pela empresa e, apesar de admitir que o abastecimento não é satisfatório, garantiu que, hoje, "existe um grau de satisfação da população muito maior". A justificativa de Vlamir Castro Paes, ex-funcionário da Cedae, é que a empresa, quando assumiu o sistema, encontrou uma rede muito velha e sem manutenção, que só abastecia 40% do município. Além disso, alegou que a adutora de Cabo Frio que levava água para Búzios era sangrada por ligações clandestinas em vários bairros, o que dificultava o trabalho da concessionária.

Pelas contas do empresário, cerca de 40% da população de Búzios já estão atendidos com água. Já o secretário de Planejamento do município, Manoel Gomes, garante que 80% da área do centro, que concentra o consumo, não têm água. Apesar disso, Vlamir Paes assegurou que a concessionária construiu uma adutora de 300 mm de diâmetro, com 29 km, para atender Búzios, e triplicou o volume de água disponível, através das ETA de Juturnaíba, que produzia 150 l/s e hoje produz 600 l/s. Somados a 60 l/s da ETA de Unamar e mais 450 l/s comprados à Águas de Juturnaíba, a Prolagos colocou à disposição da população 1.110 litros/segundo.

Contudo, a afirmação do presidente da Prolagos contradiz o depoimento do presidente da Associação de Hotéis de Búzios, Sérgio Rébora. O empresário, que é dono da Pousada dos Reis, no Portal da Ferradura, disse que, pessoalmente, já desistiu de esperar a Prolagos para levar água a seu estabelecimento. "Eles me prometeram há cerca de um ano que em 100 dias fariam a ligação à rede. Além de não terem cumprido a promessa, dizem que não há previsão para a água chegar". De acordo com Sérgio Rébora, a maioria dos donos de pousadas se viram com poços artesianos e os que não os têm são obrigados a pagar R$ 120,00 por uma "pipa" d'água.

O presidente da Associação de Hotéis informou ainda que muitos consumidores estão recebendo contas da Prolagos sem ter uma gota de água. "Em muitos lugares, a empresa instalou medidores, mas a água não chegou. Mesmo assim, eles cobram consumo mínimo". Ele citou casos de empresários do ramo de hotelaria que já receberam contas de até R$ 1.500,00 sem ter água. "Eles - da Prolagos - dizem que não investem por causa da inadimplência que é muito grande. Mas nós não podemos pagar por um serviço que não temos", argumentou.

Por sua vez, o presidente da concessionária privada assegurou que 3.600 metros de adutora já estão sendo instalados para ligar a antiga ETA da Álcalis diretamente a Búzios, além de 7.200 metros de rede de distribuição. Segundo ele, a questão de Búzios é conjuntural, pois a população sofre há 30 anos por falta d'água. Mas até dezembro ele garante que a situação vai melhorar, embora admita que, até lá, o abastecimento só deverá cobrir 60% da população.

Vlamir Castro Paes disse que já foram investidos R$ 60 milhões, sendo R$ 20 milhões com recursos próprios e R$ 40 milhões de bancos portugueses - Caixa Geral de Depósito e Banco Espírito Santo. "Até agora, são R$ 60 milhões de investimentos e R$ 10 milhões de prejuízo", afirmou, apesar de garantir que a empresa não deverá ser vendida, pois os sócios portugueses, ao contrário, querem ampliar sua participação no setor de saneamento brasileiro. Quanto ao sistema de esgotamento sanitário previsto no contrato, a empresa está aguardando a liberação de dinheiro do governo brasileiro - R$ 60 milhões - em partes iguais de R$ 30 milhões, da CEF e do BNDES, ainda para este ano, para então fazer as obras necessárias. Ele reafirmou que não existe nenhuma meta não atendida, porque o contrato prevê o atendimento de 30% da população até 2001.

Na opinião dos moradores, a questão do esgoto é tão grave quanto a do abastecimento, principalmente por se tratar de uma cidade turística, além do risco de doenças. Segundo o secretário de Planejamento de Búzios, a obra de construção da estação de tratamento deveria ter sido iniciada no prazo de um ano, a partir da assinatura do contrato. Mas a Prolagos condiciona o seu início à liberação de recursos pelo governo federal.


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