Cedae em Niterói cruza os braços contra privatização



Garotinho ameaça descumprir compromissos de campanha contra a privatização


A Cedae praticamente parou no dia 26 de julho, quando cerca de 90% dos empregados lotados nos municípios do Rio de Janeiro, Niterói e Campos fizeram uma greve de 24 horas contra a tentativa de privatização da companhia em Niterói. Durante a greve, mais de mil empregados estiveram em Niterói e promoveram uma passeata por cerca de seis quilômetros em direção à sede da prefeitura, onde realizaram ato público.

A paralisação foi provocada pelas declarações do presidente da Cedae, Alberto José Mendes, ao jornal O Fluminense de 18 de julho, de que o estado iria entregar os serviços de saneamento de Niterói à prefeitura daquela cidade, para que, posteriormente, o município privatize os serviços. A afirmação gerou um clima de revolta entre os trabalhadores, que se sentiram traídos pelo governador Garotinho, eleito depois de defender a gestão pública do saneamento.

Incoerência total

Segundo o presidente do Sindicato dos Urbanitários, Aldanir Carlos dos Santos, os trabalhadores da Cedae consideram uma incoerência a proposta de privatização dos serviços de saneamento em Niterói: "Ora, os partidos que compõem a coligação que elegeu Anthony Garotinho governador do Rio são contra a privatização dos serviços públicos. E o PDT, o partido dele, também é contra. Logo, após sua eleição, estávamos tranqüilos, pois pensávamos que não precisaríamos mais lutar contra a privatização da empresa - o que não significa que não estivéssemos preocupados em lutar por seu fortalecimento e a melhoria de seus serviços". Para Aldanir, as declarações do presidente da Cedae colocaram em suspeição o posicionamento do próprio governador. "Gostaríamos que o governador Garotinho externasse publicamente sua posição com relação à Cedae. Na verdade, não dá para entender que o prefeito Jorge Roberto Silveira, do mesmo partido do governador, seja o primeiro a querer privatizar os serviços de saneamento".

A passeata e a greve, explicou o líder sindical, foram a forma de pressão que os trabalhadores encontraram para serem recebidos pelo prefeito Jorge Roberto Silveira: "Nosso objetivo era explicar ao prefeito de Niterói os riscos de privatizar dos serviços de saneamento. Mas, como ele estava viajando, fomos recebidos pelo chefe de gabinete Hamilton Pitanga". Além dos trabalhadores, vários deputados da Frente Parlamentar em Defesa da Cedae também participaram da reunião com Pitanga que pediu que fizessem um resumo por escrito de todas as questões para ser entregue ao prefeito. O documento, assinado pela Federação Nacional dos Urbanitários, Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto de Niterói, Sindicato dos Trabalhadores em Água e Esgoto de Campos, Sindicato dos Urbanitários do Rio, Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio, Sindicato dos Administradores do Rio de Janeiro, Associação Fluminense de Água e Esgotos de Niterói, Aseac e Crea-RJ, foi entregue a Jorge Roberto pelo vice-presidente da Aseac, Paulino Cabral da Silva, no dia 29 de julho. Até agora, porém, o prefeito de Niterói não se manifestou sobre o assunto.

Um dos responsáveis pela formação da Frente Parlamentar em Defesa da Cedae, o deputado Paulo Ramos (PDT) se disse constrangido por cobrar de um prefeito de seu partido que assuma o ideário do PDT e se posicione contra a privatização do saneamento: "Eu lamento essa situação, até porque considero que o prefeito Jorge Roberto Silveira é um importante nome nacional do PDT". Paulo Ramos disse ainda que a decisão do prefeito contraria 80% dos deputados estaduais, que se comprometeram, através da Frente Parlamentar, a lutar contra a privatização da empresa. Além dele, participaram da reunião os deputados Edmilson Valentim (PC do B), Carlos Santana (PT) e Henry Charles, líder do PMDB na Alerj e presidente da CPI que apura irregularidades no processo de privatização da Cedae patrocinado pelo governo Marcello Alencar.

Trabalhadores protestam

Além dos parlamentares, diversos líderes dos trabalhadores da Cedae falaram na reunião, criticando o posicionamento do prefeito de Niterói. Para o presidente do Sindicato de Niterói, o Campista, a atitude de Jorge Roberto representa um retrocesso social, considerando-se os danos que as privatizações dos serviços públicos, inclusive os de saneamento, causaram em outros países e no Brasil. "Aqui, as privatizações, entre outros malefícios, trouxeram o desemprego", disse. O vice-presidente da Associação Fluminense dos Trabalhadores de Águas e Esgotos destacou a importância de analisar a questão operacional da distribuição de água, considerando-se que Niterói não tem uma fonte de abastecimento própria, e as dificuldades que a privatização poderá trazer para o abastecimento da população de São Gonçalo. O presidente da Aseac, Dario Mondego, explicou que o saneamento já foi privatizado em Niterói por várias vezes, sendo que a iniciativa privada não conseguiu resolver o problema do município.


... voltar